Uma contribuição
de David Eaton, atual coordenador de produção do Lovin' Life Ministries. David Eaton também é o diretor musical da New York City Symphony desde 1985, com
performances musicais ao redor do mundo, incluindo uma produção de eventos em
Israel em 12 ocasiões.
David Eaton
"Tendo
viajado para Israel em muitas ocasiões desde 2003, é triste para mim ver o que
está acontecendo lá ainda, como os atentados e as represálias que estão
assolando a Terra Santa. Há tantas pessoas maravilhosas sendo afetadas – tantas
vidas impactadas pelo impasse político em curso. O primeiro-ministro
israelense, Benjamin Netanyahu em recente visita aos Estados Unidos nos oferece
novamente a oportunidade para examinar os vários caminhos para a paz.
Em
2008, eu conheci Kitty Cohen, diretora do Folklore
of the Other Institute, uma organização inter-religiosa em Israel que
busca criar entendimento e respeito para pessoas de todas as tradições
religiosas. Kitty tem
trabalhado por esta organização por vinte anos. Ela explicou
que em suas experiências anteriores fazendo o trabalho inter-religioso, ela
produziu seminários e conferências, mas rapidamente compreendeu que este tipo
de eventos tinha pouco efeito na diminuição de antagonismos históricos. Os
aspectos polarizadores das religiões e/ou convicções políticas são muito intratáveis
para serem resolvidos meramente através de diálogo. De fato, o diálogo
frequentemente conduz a maior desentendimento e cria mais profundos
ressentimentos. Então ela mudou seu foco para ação – projetos de serviço, música,
artes e esportes. Sua experiência tem sido que, quando pessoas realmente
trabalham juntas em um projeto para uma causa comum, as barreiras de religião,
etnia e raça desaparecem mais rapidamente.
Ela
fez um elogio especial sobre o trabalho de Daniel Barenboim com a Orquestra
West-Eastern Divan, um conjunto formado de jovens instrumentistas de Israel, Egito,
Síria, Líbano e Jordânia. O maestro Barenboim e a orquestra têm atraído a
atenção da grande mídia por seus esforços para promover entendimento e
reconciliação através da música, incluindo apresentação de concertos na
Cisjordânia.
O
Dr. Bernard Sabella, um membro do Conselho Legislativo Palestino, escreveu
sobre a iniciativa do maestro Barenboim: "Fiquei impressionado com sua ênfase
na música como uma forma de juntar corações e transformador de personalidades, mesmo
de cultura herdada. Eu também fiquei impressionado com sua crença que a música
pode amenizar os abismos intransponíveis da política que separam os povos em
conflito...mas...me senti triste no coração quando me deparei com a questão de
como a música e outras formas de arte e cultura, mesmo quando compartilhadas
por músicos e artistas dos dois lados da política dividida, poderia superar as
desigualdades e injustiças inerentes nos de dominação e separação?"
Obviamente,
o Dr. Sabella não está totalmente convencido que empreendimentos interculturais,
como a Orquestra West-Eastern Divan, podem transformar a situação em Israel e
muitos compartilham seu ceticismo. Ele continuou a dizer, "O perigo na 'música
da paz,' e tenho certeza que Barenboim está ciente disto, é que ela poderia se
tornar uma peça complacente do sistema injusto como representado pelo status quo político e econômico do
ocupador – ocupado." Isto pode muito bem ser uma advertência, contudo eu
diria, como Kitty Cohen faz, que qualquer esforço para promover entendimento e
respeito é melhor do que nenhum esforço.
Há
um maravilhoso DVD da Orquestra Divan se apresentando para Ramallah em um
concerto no qual o conjunto foi recebido com entusiasmo por todos. Ainda assim, alguns tentaram politizar o evento. Barenboim discursou ao público e apelou
à sua humanidade, parafraseando o Dr. Martin Luther King Jr. dizendo que
qualquer tentativa de se dar bem e buscar soluções pacíficas é uma opção muito
melhor do que “desenhar facas.”
O
maestro Barenboim explica que o nome da Orquestra Divan foi tirado de uma
coleção de poemas escritos entre 1814 e 1819 por Goethe depois que o grande
ensaísta e escritor foi apresentado ao Alcorão. Goethe foi um dos primeiros
intelectuais europeus a ter interesse em culturas não europeias e até mesmo
começou a estudar árabe no final de sua vida. O poeta persa do século XIV, Hafiz,
tinha escrito uma coleção de poemas (Divan) sobre entender "o outro" e
Goethe ficou impressionado com seus escritos sobre o assunto. Seus próprios
poemas, West-Eastern Divan,
expressam seus pensamentos e atitudes em relação a entender "o outro."
"Simplesmente tolerar," ele advertiu, "é insultar; verdadeiro
liberalismo significa aceitação."
Naturalmente, aceitação requer entendimento. Alguns
argumentaram, incluindo o controverso colaborador do maestro Barenboim no
projeto da Orquestra Divan, o estudioso Palestino, Edward Said, que não se pode
criticar muito qualquer povo oprimido a menos que se tenha experimentado o
sofrimento desse povo da mesma maneira ou no mesmo nível. Embora possa haver
alguma credibilidade nesse pressuposto, podemos verificar que não teríamos que
viver através de qualquer horror em particular, seja na situação em Gaza, ou o Holocausto,
ou viver atrás da Cortina de Ferro ou sob o regime brutal de Mao, para ter
qualquer empatia ou criticar estas situações a partir de uma perspectiva
puramente humana. A justificativa para o uso do terror, por exemplo, é
problemático na medida em que viola o direito humano básico de vida e cria
condições para o equívoco moral. Nossa intuição nos diz que esta perspectiva é
intrinsecamente desumana.
O
maestro Barenboim admite que existem limitações quanto ao que a orquestra Divan
pode realmente realizar no processo de paz. Ainda assim, ele acredita que o
esforço de trazer esses músicos pode, em sua opinião, "criar as condições
para o entendimento sem as quais é impossível até mesmo falar sobre paz. Isto
tem o potencial para despertar a curiosidade de cada indivíduo de ouvir a
narrativa do outro e inspirar a coragem necessária para ouvir o que outros
preferem bloquear."
Talvez
construir pontes seja o melhor que alguém pode esperar neste tipo de esforço,
mas sem pontes, qualquer jornada em direção a paz permanece altamente
problemática. Como o maestro Barenboim indica, o processo de alcançar um melhor
e mais esclarecido entendimento requer falar sensível como também ouvir
sensível, sem mencionar o perdão.
Quando
o Primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin e o Presidente da OLP Yassir
Arafat apertaram as mãos na Casa Branca, na conclusão de suas conversas de paz
em 1993, muitos israelenses se perguntaram como seu Primeiro-ministro pôde
oferecer sua mão para alguém que tinha causado para Israel tanta dor e angústia.
Rabin lembrou seus companheiros israelenses que quando se está tentando criar
paz e reconciliar ressentimentos históricos, você não está fazendo isso com seu
amigo histórico, mas com seu inimigo histórico. Perdão pode ser de fato
condicional, mas sem o passo inicial, neste caso um acordo mútuo sobre
princípios estabelecidos como também esse aperto de mão histórico e uma
disposição para perdoar, não poderia haver nenhuma esperança para a resolução
dos problemas aparentemente insolúveis que assolaram estes dois povos ao longo
de suas respectivas histórias.
A
banda, Gaya, se apresentando na Reunião Inter-religiosa
da Paz MEPI em 2003 em Jerusalém.
Em
minhas viagens para Israel tenho encontrado corais, bandas e grupos de dança que
eram compostos de Cristãos, Muçulmanos e Judeus. Em uma grande reunião
inter-religiosa pela paz que produzi no Independence Park na cidade de Jerusalém
em 2003, a banda israelense bem conhecida Gaya, apresentou cinco talentosos
instrumentistas Judeus e dois Árabes que lideraram a banda em várias canções e
defenderam a paz – em inglês! (Canção hit da banda Gaya, A Song For Love [Uma Canção Pelo Amor]
pode ser ouvida no site Peace CommUNITY.)*
Música
como um veículo para mudança é um conceito que muitos artistas em Israel
consideram ser muito importante. Meu querido amigo e colega, o vocalista David
D'Or, vem usando sua música para os esforços inter-religioso e intercultural em
Israel por muitos anos. Ele considera esta uma vocação sagrada e está sempre buscando
formas de trabalhar com "o outro." A cantata da paz que compusemos juntos, Halelu – Songs of David, é
nossa contribuição para o processo de edificação da paz. (Veja e ouça partes da
cantata Halelu no
Youtube.)**
Em
uma conferência da Liga da Orquestra Sinfônica Americana em 1988, o
condutor/compositor ícone Leonard Bernstein compartilhou suas experiências de
uma viagem recente para Israel e fez um apelo emocionado para o amor estar no
centro de qualquer processo de paz. Bernstein disse, “Esta será nossa resposta
para a violência: fazer música mais intensamente, mais lindamente e mais
devotadamente do que nunca.” O Dr. King instruiu que o primeiro atributo
necessário para qualquer abordagem não violenta para a paz era a coragem. Como
musicistas e artistas, faríamos bem levar a sério o conselho de Lenny e do Dr.
King com grande entusiasmo e ser sérios defensores do altruísmo em nossos
esforços criativos.
Quando
consideramos o cenário enfrentado por Israel, é gratificante saber que pessoas
como Daniel Barenboim, Kitty Cohen, Gaya, David D'Or e outras estão
comprometidas em utilizar seu talento e recursos para promover paz,
entendimento e respeito do “outro.” Nenhum esforço é tão pequeno ou
insignificante.
Paz, Peace, Shalom, Salaam Aleikum."
quinta-feira, 21 de março de 2013